quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Aberturas de Grandes Livros - "A Vida de D. Pedro I" (Octávio Tarquínio de Sousa - Brasil)


“O casamento do infante D. João, filho segundo de D. Maria I, rainha de Portugal, com a infanta D. Carlota Joaquina de Bourbon, filha dos príncipes das Astúrias, foi tipicamente um negócio em que não entraram em conta as aspirações, a maneira de ser e de sentir, a vontade e o desejo dos noivos.
Apenas o interesse político, a razão de estado, a conveniência dinástica.
Nenhuma gratuidade de simpatia, nenhuma busca de sentimentos afins, nenhuma atracção de sexo. Casamento por dever, união compulsória.
E ainda por cima o inevitável quinhão de aventura que se liga sempre a esse acto, embora celebrado nas melhores circunstâncias, acrescido pelo total desconhecimento recíproco.
Para cúmulo, certa aversão inicial espontânea a transformar-se muitas vezes em ódio surdo e definitivo. Assim casavam os príncipes.

Em 1783, contava D. João dezasseis anos. O príncipe herdeiro D. José, com seis anos de casado, não tinha prole, o que dava ao irmão mais moço a presunção de suceder-lhe na Coroa.
Logo se começou a cuidar de casar também D. João. Cogitou-se de fazer sua mulher uma princesa filha do Grão-Duque da Toscana. Mas a esposa que lhe tocou afinal foi a infanta Carlota Joaquina, que melhor aproximaria as casas reinantes e os reinos de Portugal e Espanha.



Em 1785, depois das dispensas de Roma, estava realizado o enlace. O noivo ia completar dezoito anos e a noiva apenas dez. Um rapazola e uma menina impúbere.
Não faltaram os festejos comemorativos numa e noutra corte – Te Deum, luminárias, salvas, bailes, ceias, representações teatrais.

O Marquês de Louriçal, mentindo como bom embaixador, mandara dizer de Madrid, em 1783, que a infanta – “é magra, muito bem feita de corpo, todas as feições são perfeitas, dentes muito brancos, e como não há muito tempo teve bexigas, ainda não se desvaneceram de todo as covas delas; é branca, corada, muito viva”.

Ao casar dois anos depois, Carlota Joaquina crescera pouco (nunca a sua altura passou de 1,47 m) e provavelmente não embelezara.
De seu lado, o infante D. João já apresentava os traços que o tempo acentuaria de um homem feio, gorducho, tímido e triste. (…)”

Octávio Tarquínio de Sousa (ao centro)

A Vida de D. Pedro I – Octávio Tarquínio de Sousa (1889-1959)
(Co-edição da Editora Itatiaia e Editora da Universidade de São Paulo, 3 vols., Brasil, 1988)

Disponível na Biblioteca Nacional de Lisboa (Portugal)
3 vols. com as seguintes cotas:
H. G. 46491 V.
H. G. 46492 V.
H. G. 46493 V.

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