sexta-feira, 24 de junho de 2022

O belo arrependimento do actor Karl Malden... (Como ele perpetuou, nos filmes, a memória de seu pai)




"No dia 1 de Julho [de 2009], aos 97 anos, morreu Karl Malden.

Ele pertence àquela legião de actores secundários que talvez seja a primeira razão para o cinema americano ser grande.

Ganhou um Óscar em Um Eléctrico Chamado Desejo e foi o padre em Há Lodo no Cais...

Mas trago-o para esta crónica por uma história mais ou menos ao lado do ecrã.

Karl Malden foi baptizado Mladen Sekulovich - era filho de um operário sérvio, imigrante em Chicago.

Quando se tornou actor, mudou de nome. Do próprio, ligeiramente transformado, fez o apelido, Malden, e aboliu, claro, o impronunciável Sekulovich.

Os actores perseguem a fama e não lhes serve um nome que atrapalhe.

Porém, o seu pai, o imigrante sérvio, viu na mudança um desdém pela família...

Quando se tornou famoso, Karl Malden quis pagar essa dívida ao pai.

Nos contratos, obrigava a que, algures, mesmo a despropósito, o nome "Sekulovich" fosse dito.

Em Patton, era um soldado, em O Homem de Alcatraz, era um preso, em Há Lodo no Cais, era um sindicalista...

Nos filmes de Karl Malden houve sempre um Sekulovich. 

Conheço poucos arrependimentos tão belos."  (*)

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(1) Da trilha sonora do filme Patton:




(2) Karl Malden e Steve McQueen
no filme Nevada Smith:


(*) - Texto de Ferreira Fernandes - O actor que pagou a dívida - in Diário de Notícias – 4 de Julho de 2009 – Lisboa - Portugal

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